os 20 e poucos são uma época estranha
Envelhecer não é como nos filmes, a vida real não tem roteiro
Expectativa.
substantivo feminino do latim exspectātum (“aguardado” ou “em vista”)
situação de quem espera a ocorrência de algo
esperança fundada em promessas ou probabilidades; expectação
Quando se atinge a fase dos 20 e poucos todos esperam algo de você, seus pais, seus amigos, a sociedade, e enquanto seus ombros pesam com as expectativas dos outros, você mesmo nutre a esperança de que a vida guarda algo especial para ti. É um limbo, as responsabilidades da vida adulta já arrombaram a porta, mas a sensação de ser adolescente ainda perdura. O fato é que esse é o momento de tomar aquelas decisões que definem sua vida, você finalmente tem espaço para explorar e de fato descobrir quem você é de verdade (depois, você vai perceber que estamos sempre em constante mudança, e isso é bom).
É difícil tentar falar sobre esse tema de forma abrangente, pois cada pessoa experiência a vida de uma forma, conheço muitas pessoas que estão recém começando a entrar no mercado de trabalho, enquanto outros assinam carteira desde os 16. Alguns estão morando sozinhos pela primeira vez, outros preferem a segurança de estar em casa, muitos estão na universidade, alguns fazem cursinho, outros resolveram fazer um mochilão pelo Brasil. Tenho colegas de escola que já casaram, outras têm filhos, algumas já são referências nas profissões que escolheram, umas moram fora do país, outras nunca saíram do mesmo bairro.
O fato dessa época representar tantas coisas diferentes para tantas pessoas diferentes é justamente o que faz dela tão estranha. Eu me pego constantemente pensando “o que diabos eu deveria estar fazendo da minha vida?”, e enquanto milhares de coisas passam pela minha cabeça, eu nunca encontrei a resposta certa. E isso faz um círculo completo com a questão das expectativas, enquanto existe uma série de coisas esperadas de mim, eu ao menos sei o que eu realmente quero? Nesse dilema constante entre conformar e ceder aos meus próprios desejos, tenho medo de me perder.
Eu anseio por experiências, por conhecimento, quero ler todos os livros, assistir todos os filmes e ouvir todas as músicas. Quero escrever poesia, aprender crochê, pintar quadros, fazer cerâmica, quero dançar na chuva e viver um grande romance antes que o capitalismo me force a viver do trabalho para casa, de casa para o trabalho. Mas eu quero, também, suceder profissionalmente, quero construir um nome para mim mesma na área que eu tanto amo. No fim das contas me pergunto, é possível ter ambos? E assim, paraliso com a ideia de não aproveitar ao máximo o tempo de juventude que um dia será só uma memória distante.
Acredito que se sentir perdido é inevitável, é aqui que vão te dizer que está na hora de enfrentar a verdade: sua vida depende só de você. E eu não vou nem entrar no papo de como esse discurso alimenta a ideia de meritocracia, e de como ela é uma bobagem completa, inexistente no sistema em que vivemos. Não, esse não é meu ponto, apesar de poder ser, eu estou falando de como o ser humano é um ser social, está na nossa natureza, nós triunfamos quando estamos cercados de outras pessoas.
Sim, suas escolhas são só suas, mas você é um mosaico de todos que já passaram pela sua vida, é inevitável que isso afete o desenrolar da sua história. E não é só isso, às vezes a gente precisa de um empurrãozinho, principalmente nesta altura da vida, seja com palavras de encorajamento ou com alguém sentando do seu lado e falando que está ali contigo. Isso não tira seu mérito, suas conquistas seguem sendo suas, quem te ajudou hoje, tu ajuda amanhã. Eu serei sempre a favor de acabar com o discurso de que nessa vida é só você contra o mundo, sim, pessoas vem e vão, mas isso não muda o fato de que elas te marcaram de alguma forma.
Uma coisa que meus 20 e poucos estão me ensinando, é que as pessoas que me cercam são essenciais, quem elas são, o que elas fazem, tudo reflete em mim e eu me torno melhor por causa disso. Quando Lorde cantou que envelhecer é assustador, eu concordei, é aterrorizante, mas tenho que discordar dela quando ela fala de solidão. Eu tenho meus momentos, é claro, mas quando vou escolher um livro novo para ler, e lembro daquele que vi na prateleira da minha amiga, eu me sinto menos sozinha. Quando uma delas se oferece para começar um passatempo novo comigo, ou compartilha uma conquista, eu me sinto menos sozinha. Envelhecer com elas é menos assustador, porque eu me sinto menos sozinha.
Então sim, por mais estranha que essa época seja, por mais perdidos que todos nós estejamos, talvez seja reconfortante saber exatamente isso: todos nós estamos. E vai saber, quem sabe daqui a uns oito anos eu reescreva esse texto falando sobre os 30 e poucos, sinceramente não duvido que a vida toda seja meio estranha, de formas diferentes.